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martes, 10 de abril de 2012

A PALAVRA SAGRADA

Para os tupi-guaranis o ser humano é uma palavra enviada por Deus. A palavra é a própria alma. A noite em que a criança é engendrada, o pai recebe, por meio de sonho, a palavra alma e no dia seguinte narra à sua mulher. Pela voz do futuro pai, através do ouvido da mulher, entra a palavra para “tomar assento”. A criança será apresentada ao xamã, isto é, ao sacerdote; este, depois de um longo ritual, conseguirá decifrar o nome da alma da criança, e esse nome o acompanhará até a morte, não devendo revelá-lo a nenhuma pessoa, pois, somente os seus pais e os mais íntimos saberão o autêntico nome da sua alma.



Os tupi-guaranis amavam o silêncio –algo comum nas culturas antigas–, pois desse modo não corriam o risco de dilapidar a sua alma. Acreditavam fundamentalmente em dois valores: fortaleza e grandeza de coração. As crianças, no colo dos anciãos, aprendiam esses valores e desse modo se preparavam para a vida e a morte com dignidade. Tinham fé na existência de um lugar onde a morte não tinha poder, um lugar onde não existiam lágrimas nem injustiça, onde o milho crescia em abundância e a caça não exigia esforço nenhum. Essa terra tinha um nome: Yvy Marane’y (Terra sem Males).


Esses são alguns exemplos da sabedoria dos povos que habitavam estas terras e que, infelizmente, cada vez mais correm o risco de desaparecer inteiramente. Por isso é importante resgatar a força da palavra indígena. Hoje, paradoxalmente, o que poderá salvar a cultura indígena do esquecimento é palavra escrita, da qual desconfiavam, pois a escrita poderia ser a palavra petrificada, da palavra domesticada, a palavra morta, uma vez que a oralidade é dinâmica, viva, que oferece a ocasião da recriação infinita como os hinos sagrados que em cada festa religiosa eram oferecidos aos deuses. As antigas culturas precisam entrar e fazer parte da mesa da humanidade, quem sabe aprendamos alguma coisa sobre a condição humana.